Mãos no chão, lanço as pernas pra cima e o momento em que o peso do quadril começa a passar a linha dos ombros é o momento que eu sinto que estou fadada ao fracasso. Não tem jeito, tudo depende dessas duas coisas que eu chamo de braços, e também das mãos, e dos dedos e ombros, esse monte de tecido, músculo e ossos que em algum lugar vai falhar. Se a força não me deixar na mão, vai ser o equilíbrio, eu tenho certeza. Talvez eu caia de cabeça, ou pro lado, vou cair em cima da planta. A mão era pra ficar desse jeito? Eu devia ter pesquisado como é a lesão no pescoço de quem caiu de cabeça desse jeito pra saber melhor dos riscos. Já pensou o Fabio chegar em casa e me encontrar caída aqui no chão, sei lá, acho que o afastamento das mãos não era esse e eu vou machucar os punhos.
Os pés voltam pro chão, acabou. Pode ter passado dois segundos ou um minuto, mas o que quer que tenha acontecido na viagem dos pés pro céu já não tem sentido nenhum. É outra vida, alegria, segurança e tentar de novo.
Não queria sentir medo ao ficar de cabeça pra baixo, mas tem também o lado bom de ter esse momento de risco calculado para poder olhar pra essa emoção.